Li, já há muitos anos, um livro que tem como título: “A força que vence a Deus”. Foi uma leitura muitíssimo proveitosa pois ajudou-me a tentar perceber melhor que essa força era a oração.
Oração feita com humildade, com perseverança, com audácia, com confiança. Oração que nasce da certeza do amor que Deus Pai nos tem, oração feita por intermédio e em nome de Jesus. Oração inspirada pelo Espírito Santo. Oração que chega a Deus pelas mãos e pelo Coração da Virgem Imaculada, a nossa Mãe. Oração feita assim, sem desfalecer, alcança graças abundantes, começando pela nossa própria conversão, pela mudança de vida e de critérios. Afinal, esta oração torna-se poderosa para mover o nosso coração e não o coração de Deus. Ao longo dos anos, fui percebendo que a oração não vence a Deus, mas vence-me a mim, pois ajuda-me a ser mais humilde, mais pobre, mais caridoso, mais evangélico, mais serviçal, mais atento aos outros.
Esta oração rasga-nos o coração para o tornar semelhante ao de Cristo, Coração trespassado pelo amor e sempre aberto para amar. A oração não é feita para vencer a Deus, mas para nos vencer a nós, e em nós, do pecado da tibieza, do orgulho, da falta de confiança, etc. Rezando sempre, rezando mais, rezando sem cessar, como diz São Paulo, somos nós que somos “vencidos” pelo amor que nos vem de Deus, pela graça divina, pelo Coração do Pai, que está sempre aberto e nos convida a confiar e a sermos generosos. Esta oração, feita com as qualidades que dizíamos acima, aumenta a nossa fé e é essa a vitória. Como aumenta a nossa esperança e a nossa caridade. Nós somos vencidos pela força da oração que fazemos, pelo poder de Deus que vem até nós e nos faz mais humildes, mais sábios, mais simples, mais servidores. E só a força de Deus nos pode conceder estas graças. A oração que fazemos atrai a nós a divina misericórdia que vence o pecado e o maligno. É esta a vitória de Deus que a oração nos alcança.
O Coração de Deus, como amor infinito, louco e apaixonado, repete-nos, como disse a Catarina de Sena: “Faz-te recetiva e Eu serei torrencial”. E a oração assídua nos faz recetivos ao amor torrencial. Não mudamos a Deus, nós é que somos mudados por Ele, movidos pelas Suas graças infinitas, alcançadas pela oração. Mas Ele está sempre de Coração aberto, voltado para nós. Sempre de braços abertos para nos acolher. Sempre pronto a derramar torrentes de misericórdia e de graça. Sempre sequioso de nós, da nossa presença, do nosso amor, do nosso diálogo. Por isso, Jesus nos disse: “Pedi e recebereis, batei à porta e ela abrir-se-á”. Não vamos forçar a Deus a fazer o que Ele não quer, nem obter a graça de Ele abrir Seu coração. Ele que nos ama infinitamente, quer dar-nos sempre mais. A oração dispõe-nos a receber as torrentes de graça, pois torna-nos mais humildes e Ele revela-Se aos de coração simples e enche-os de graças.
Deus não é um deus comerciante a quem podemos dizer: “Se me deres isto ou te dou mais missas, mais flores”. Deus não é um deus avarento e cioso do que é e tem, e a oração não serve para O mover a nosso favor. A oração muda-nos a nós e dispõe-nos a alcançar graças dessa fonte divina que é o Seu Coração de Pai. A oração é a nossa força, porque nos faz recetivos, abertos à torrente infinita de graças. É a força que nos faz mais humildes, mais confiantes, mais amigos de Deus, mais desapegados de nós e do mundo. A oração faz-nos, pela graça de Deus, estar com o coração mais vazio, mais recetivo, mais aberto ao caudal de graças. É esta a força da nossa oração. Faz-nos estar unidos a Deus que é fonte de graças. Faz-nos estar voltados para Ele, faz-nos caminhar para o Oceano infinito de graças, que é o Seu Coração.
Padre Dário Pedroso
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