Ressentimento: a chave para o adoecimento

No ressentimento, atribuímos a outras pessoas ou situações coisas que deveriam ser resolvidas por nós

Abrir-se ao novo também é deixar de lado os ressentimentos. Tantas vezes, incomodamo-nos por aquilo que passou, não é verdade? Parece que ficamos com várias caixas de arquivo morto, cheio de coisas velhas e sem valor, mas que ocupam espaço em nossas memórias e emoções. Frente a todos esses sentimentos e tantos outros, o ressentimento, muitas vezes, não é sinônimo de raiva, arrependimento ou vingança, mas a impossibilidade de esquecer ou superar um acontecimento.

Foto: Daniel Mafra / cancaonova.com

 

Não dá para negar que o relacionamento de qualquer tipo nos afeta, pois temos consequências conscientes e inconscientes. Vivemos de sentimentos de contrariedade: raiva, amor, ódio, agressividade, alegria, uma enorme tristeza, ambição, generosidade, vaidade, inveja e compaixão.

Lembro a você quanto da dor do ressentimento nos dá ainda as vivências de adoecimento, das doenças psicossomáticas, ou seja, aquelas que são causadas por questões emocionais. Ressentir-se é como dar a responsabilidade ao outro por coisas que nós mesmos guardamos em nosso interior. É atribuir a outras pessoas ou situações coisas que deveriam ser resolvidas por nós. É como não nos libertarmos de situações sufocantes e, ao mesmo tempo, conflituosas.

Destaco uma definição muito interessante: “Ressentir-se significa atribuir a um outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. Um outro a quem delegamos, em um momento anterior, o poder de decidir por nós, de modo a poder culpá-lo do que venha a fracassar” (Kehl, 2008). Entendo que nossa cultura, muitas vezes, nos ensinou o modelo de vítima como modelo mais utilizado e preferido pela sociedade. Pense nessas três situações:

1) Valorizamos o tirano (aquele pelo qual temos ressentimento);
2) Como não temos a reparação (esquecimento), vivemos nos colocando na posição de vítima e sempre temos uma “desculpa” pela situação;
3) Resistimos às situações, pois sempre é mais fácil prorrogar uma situação a agir de forma a extingui-la;
4) Essa relação é circular, ou seja, é cultivada com grande expressão das nossas emoções, alimentando mágoas, rancores e, consequentemente, ressentimento, tornando-nos cada vez mais adoecidos.

No papel de pessoa ressentida, você já deve ter notado que conseguimos uma forma de mostrar que estamos com razão na situação, desculpando-nos de forma tão verdadeira, atraindo, desta forma, muitos apoiadores, que “compram” nossa causa.

A pessoa ressentida e, por conseguinte, ofendida, agredida e machucada não diz abertamente o que sente, mas prolonga e “rumina” essas dores de forma repetitiva. Dá para imaginar o tamanho desse estrago? É manter sempre o papel da vítima, de submisso ao outro, desligando-se de qualquer culpa pessoal nesse processo.

Como posso apreciar algo que foi uma experiência ruim para mim? Como apreciar a mágoa do namoro terminado, da amizade traída, da agressão sofrida? Procurando tirar exemplos e formas diferentes de olhar a vida. Você já foi a um museu que havia visitado quando criança, e agora adulto voltou a olhá-lo? Certamente, sim. Seguramente, seu olhar deve ter sido diferente, olhou coisas que não havia percebido naquela época, e agora você teve a oportunidade de fazer uma visita diferente.

É esse convite que lhe faço com relação aos seus ressentimentos. Tente olhar as vivências amargas de uma forma nova, procurando superar emoções negativas que apenas comprometem nossa vida saudável.

 

Fonte: Cancaonova.com